As primeiras informações sobre este cordofone chegam-nos de relatos das práticas musicais dos padres Jesuitas no exercício de conversão/evangelização das comunidades indígenas do Brasil na segunda metade do século XVI.
Ao lermos o tratado de Juan Bermudo, (Ossuna 1555), deparamo-nos também com uma descrição vaga de uma guitarra pequena de 4 ordens cuja afinação é descrita como sendo re-entrante (com a terceira ordem mais grave).
Em 1581 foi fabricada por Belchior Dias, de Lisboa, uma guitarra pequena, de fundo “acanalado à portuguesa” , com 5 ordens e que, segundo os estudos mais recentes, corresponde ao modelo principal usado por autores como Alonso Mudarra (1546), Melchior Barberi (1549), Adrien Le Roy (1552) Pierre Phalèse (1570) etc.
No século seguinte, em 1646, encontramos dois exemplares sobreviventes de Descante (Chitarrino) da autoria dos violeiros Giovanni Smit e de Alexandre Voboam (1690), no Kunsthistorisches Museum, em Viena, bem como alguns descantes anónimos , datados do mesmo período e actualmente depositados em reservas de museus e colecções privadas.
As peças em tablatura para Chitarriglia (Descante) nos livros de Pietro Millione (1624), Carlo Calvi (1646), Stefano Pesori (1648) e Giovanni B. Granata (1650) e outros de autores desconhecidos comprovam a voga e o tipo de uso destes pequenos cordofones.
Esta tradição de uso e a sua designação em Portugal (a par de outras para o mesmo instrumento, como Oitavilha e Machinho) chegou até ao final do século XVIII, como o comprova a descrição de Raphael Bluteau na entrada DESCANTE do seu Vocabulário de 1712/18, reeditado em 1789 por Morais e Silva.
Também encontramos representações em pintura e gravura conhecidas em Portugal, dos séculos XVII e XVIII , nomeadamente no livro do Padre Filippo Bonanni S.J. (1638-1725), no qual se representa um Chitarrino de 4 ordens duplas de dimensões muito próximas do actual cavaquinho.
Esta tradição de uso e a sua designação em Portugal (a par de outras para o mesmo instrumento, como Oitavilha e Machinho) chegou até ao final do século XVIII, como o comprova a descrição de Raphael Bluteau na entrada DESCANTE do seu Vocabulário de 1712/18, reeditado em 1789 por Morais e Silva.
Também encontramos representações em pintura e gravura conhecidas em Portugal, dos séculos XVII e XVIII , nomeadamente no livro do Padre Filippo Bonanni S.J. (1638-1725), no qual se representa um Chitarrino de 4 ordens duplas de dimensões muito próximas do actual cavaquinho.
Na nossa reconstituição do Descante de 4 ordens, realizada em estreita colaboração com o Mestre violeiro Orlando Trindade, procurámos reunir as informações colhidas nos exemplares sobreviventes dos séculos XVI e XVII , com análise do sistema construtivo e aplicação de geometria modular no desenho do corpo (v. molde/plano). Observámos também as regras gerais do comportamento vibro-acústico das guitarras antigas na colocação do cavalete e posicionamento do espelho, com laço de talha em buxo e pergaminho, inspirado na rosácea da Igreja do Sardoal (desenho de Anne Clément) e copiámos o desenho do cravelhal espatular, com cravelhas dorsais, do exemplar de Belchior Dias.
O número de aduelas no fundo foi reduzido para 5, em vez das 7 presentes no modelo original mas o perfil arqueado procurou seguir as linhas do modelo original.
O novo Descante , de fundo acanalado em pau-santo (Dalbergia nigra Vell.), com mais de 80 anos de corte, com o tampo em espruce (Picea abies, Karst.), com cerca de 60 anos de corte e o braço e cravelhal em andiroba (Carapa guianensis Aubl.), com mais de 45 anos de corte, tornam o instrumento extremamente leve (cerca de 200g). O instrumento é montado com 7 cordas de tripa ( substituidos por Nylgut) e equipado com 10 trastes do mesmo material.
O resultado sonoro é surpreendentemente bom, com volume, dinâmica e timbre cristalino, sem demasiada ressonância e com boa projecção direccional.
Texto de Pedro Caldeira Cabral
Fotografias por Joaquim António Silva
Instrumento construído em parceria com Pedro Caldeira Cabral